O carnaval dos outros

Ana Straube
4 min readFeb 13, 2021

--

Desculpe, Dionísio.

Confesso que estou longe de ser uma grande foliã. O que não me impede, de maneira alguma, de amar o carnaval. Aprendi com meu pai — e hoje tenho maturidade suficiente para assumir — que gosto de observar, assistir, ouvir e imaginar quantas histórias o carnaval pode contar, sem necessariamente ter de tomar parte nele.

Acredito no carnaval como a expressão do que melhor temos a oferecer: criatividade sem limites, capacidade de se virar com pouco, alegria, espírito coletivo, colaboração. Sem comprometimento e comunidade não existe carnaval. Por isso, respeito quem não gosta, mas reservo aos que demonizam, atacam e querem acabar com o carnaval o meu mais profundo asco.

Mas qual é o sentido de trabalhar exaustivamente — muitas vezes de graça ou gastando o pouco que tem — por um punhado de horas de festa, gozo, encantamento e beleza? O que leva pessoas tão diferentes a se lascarem das mais variadas formas para fazer o carnaval acontecer?

Afinal, tanto faz se falamos de um pequeno bloco de bairro, um antigo grupo de maracatu rural ou de uma próspera escola de samba. A maioria das pessoas que se entrega, ensaia, costura, transpira, corta, cola, toca ou canta não ganha nada com o carnaval. E muitas vezes perde.

Até agora, minha vontade de observar o carnaval e a relação que pessoas tão diferentes estabelecem com ele me levou a Nazaré da Mata (PE) em 2014, para conhecer a Cambinda Brasileira, maracatu rural mais antigo do Brasil, fundado em 1918 no Engenho Cumbe (fotos aqui). E também a acompanhar o processo de construção do carnaval da Tom Maior, escola de samba paulista, em 2016 (abaixo e mais aqui).

As fotos fariam (ou fazem) parte de um projeto que chamo de ˝O carnaval dos outros˝ arrastado, assim como outros tantos, pelo ˝rio que passou em minha vida˝ em 2016, quando Francisco nasceu, e adiado por tempo indeterminado pela pandemia de Covid-19.

Espero que em breve possamos voltar a ocupar as ruas ˝extremamente vazias˝ desde o último carnaval, aglomerando nossos corpos vacinados em blocos, trios, ladeiras, pulando — para quem é de pular, e admirando para quem é de admirar.

--

--